No início de 2008, fui realizar um exame de rotina no trabalho.
No exame o médico encontrou um nódulo na região da barriga,
e pediu para passar com o clínico geral.
Sentia o nódulo do tamanho de um limão.
A partir desse dia minha vida mudou,
marquei exames, e neste meio tempo das consultas..
Escondi da minha família..
até que no mês de março, minha mãe foi tomar banho e
caiu no banheiro com AVC, após nove dias veio a falecer...
Acredito que não há dor maior...
Iniciei os exames e em uma ultrassom, o médico afirmou
que poderia ser um câncer pela perfeição do nódulo.
Sabe mesmo que tenhamos o Senhor em nossos corações
e em nossas ações diárias ...perdemos o chão..
Meu maior medo era que minha família sofresse.
Pedi ao clínico Geral que me encaminhasse ao ginecologista.
Ao passar...diagnóstico: Miomas.
Por meses tomei remédio para não mais ter mais a menstruação
estava com muita hemorragia.
Fiquei um período...Bem!
Não imaginava o que o remédio estava fazendo...os miomas cresceram e multiplicaram-se...
Fui encaminhada com urgência para o médico cirurgião...
Não havia outro caminho.
No início de setembro de 2009, realizei a cirurgia, foram retirados 8 miomas, tendo um do tamanho de um feto de 6 meses,
Meu corpo ficou como o de uma gestante de 7 meses de gravidez.
Como tive muita hemorragia, fiquei muito debilitada...resultando em uma anemia.
Não tinha vontade de fazer nada, não conseguia tomar água, o feijão que tanto gosto olhava para ele no prato...não comia e muito menos bebia alguma coisa...
Em mim iniciou se dores intermináveis, sentia calor e frio ao mesmo tempo, em 31 de outubro de 2009, já não conseguia dormir de tantas dores e calafrios.
Fui por várias vezes ao Pronto Socorro, tomava buscopan e retornava para casa.
Esperei amanhecer o dia, pedi para que a minha irmã chamasse o meu irmão para me levar ao médico, pois a dor era imensa em mim, no mesmo momento o meu irmão que deveria estar dormindo em sua casa, aparece naquele momento, até disse à ele: - Você escutou eu te chamar!
No pronto socorro fui direto para a emergência, não suportava a dor.
Após realizar um ultrassom a médica solicitou uma vaga com urgência no hospital.
No hospital realizei mais exames, diagnóstico: Útero inflamado e com abscesso atrás podendo contaminar os demais órgãos.
Tomei três bolsas de sangue, a dor ia e voltava muito mais forte...sozinha em uma sala na maca, comecei a bater minhas mãos na parede...o colchão quase rasguei de tanto que puxava...que dor meu Deus!
A médica veio me desejou boa sorte...avisou dos riscos...e de verdade....eu não pensava em nada...apenas gostaria de me livrar daquela dor infernal.
Na sala de cirurgia...quanta gente...o médico pediu para que eu abrisse bem a boca...só ouvi: - Ela não esta me ajudando...não vi mais nada.
O acordar diferente...
Jesus muito obrigado por poder ver novamente...
Não sei qual era o dia, horas, apenas quando abri os meus olhos minha irmã estava vindo ao meu encontro..pensei em Deus e sei que precisava ter força.
O rosto dela era de piedade..tentava do seu jeito me confortar...
Com as mãos tentava tocar o meu corpo...não conseguia alcançar, estava de fralda, meus lábios estava com uma grande pele ressaca, sentia sede...me informaram que não podia beber nada...quando percebi que havia algo em meu pescoço...saia um canudo do meu nariz...da minha barriga...urina...não conseguia me tocar ...muitos aparelhos em minha volta...pensei estou em uma UTI...não podia falar.
O local estava abafado...e os enfermeiros falando de coca cola gelada...pensava comigo...eu vou voltar a falar...e vou reclamar posso não falar mais escuto...rss.
Quando sai da UTI já levantava os braços e com as mãos fazia bagunça para me escutarem...batia minha mão na cama...não desejo para ninguém o que passei, é muito difícil as pessoas te entender, quando não há palavras.
A traque
A traque necessitava ser limpa mais de duas vezes ao dia, quando a fisioterapeuta chegava, era o mesmo que tivesse chegado para mim o melhor chocolate do mundo, me sentia uma bebê que aguardava com ansiosidade a hora de amamentar..as palavras da fisioterapeuta me acalmava...me dava forças para sair daquele lugar, pois minha família não saia do meu pensamento..e que saudades eu sentia do meu sobrinho...como queria novamente abraça-ló e dizer o quanto ele era amado por mim, dizer meu gato, meu lindo da tia...sem palavras.
Tinha tanto medo de não conseguir respirar.. a tosse constante incomodava...me irritava...não conseguia falar...explicar o que sentia...era pior que montar um quebra cabeça de 1000 peças... nem o banho que me davam...era tão pior que a traque e as sondas que não permitia me mexer...ainda hoje tenho muita dificuldade de olhar nos hospitais pessoas com a traque...e enquanto ela estava em mim não me vi um só dia no espelho...pois, aquilo não me pertencia...Eu estava confiante que o Senhor iria me abençoar...e ele só não me abençoou com me agraciou..Obrigado Senhor!
Eu tinha que vencer...eu tinha que sair daquele lugar...pensava comigo...como minha irmã conseguiu contar o meu estado para todos...como estava os meus irmãos...o Lucas e o Fio ...não saia do meu pensamento...eram os meus meninos... e pedia ao Senhor que não deixasse eu partir, tínhamos perdido a nossa Mãe e não queria que a minha família sofresse novamente.
A alta da UTI
Um enfermeiro entra e aponta para mim, e diz: - Você esta de alta vai para o quarto!
Levantei os meus braços e mesmo rodeada de enfermeiros, agradeci a Deus em lágrimas.
No quarto minhas visitas eram constantes, amei profundamente a cada pessoa que me dirigiu a palavra para me confortar...passei dias sem falar...sem andar...
Minhas palavras tornaram se gestos, na palavra as lágrimas eram constantes em agradecimento à Jesus pela minha vitória de cada dia.
Surpresa do anjo
Um dia estava sozinha no quarto, quando de repente chega pra mim...um anjo...chamado Talita...fora minha catequizanda...entrou no quarto como de costume...trabalhava naquele hospital...ao me ver...sua face não conseguiu consertar o espanto por ver sua catequista naquele estado...uma linda mulher que para mim uma eterna e singela menina...com o seu coração disparado aproximou se e tentou entender o que acontecerá comigo... pude ouvir o seu coração...e com gestos tentei explicar. Uma visita ..um presente que Deus me resgatou a minha importância...o quanto que Deus me eternizava no Amor que semeei na minha missão. Obrigado Deus por me visitar...
A troca da traque
Sonhava com esse dia, tinha medo, mas aquilo não era meu, não me pertencia...era momento da visita junto comigo minha irmãprima Alessandra e minha tiamãe Helena, o médico pediu para que saíssem, trocou por outra que era só colocar o dedo no buraco eu falava...agora sim...pensei...ninguém me segura...quando coloquei o dedo e o médico pediu para mim falar, boa tarde...
Pronunciei, o som era diferente,...mas chorando...agradeci muito a Deus por aquele momento...fiz todos chorar...um grande momento na minha vida...Eu podia falar! Louvado seja Jesus Cristo!
E aos poucos foram trocando de modelo, fiz teste de água azul, para ver se podia comer e beber com a fono, fiz testes...e até que chegou o grande dia ...tirei a traque...não tinha uma pessoa que entrava no quarto que eu fazia questão de mostrar...os enfermeiros quanto carinho.
A verdade...
O dia lá fora brilhava, e a única paisagem que meus olhos alcançavam era uma fabrica que através dela sabia a altura que tinha que ficar minha cama, todos os dias a mamãe fisioterapeuta chegava tão jovem, tão dedicada, limpava e aspirava com muito carinho a traque.
De repente entra o meu Médico, Dr. Gustavo, relata o que ocorreu na cirurgia, devido ao útero inflamado e o abscesso tiveram que me dar anestesia geral, no momento de coloca o tubo na minha garganta o tubo não passou, tiveram que me reanimar e em questão de segundos me colocaram a traque, tendo sido um cirurgia delicada. Eu não tinha previsão de alta, j[á não agüentava mais as três sondas e a traque, após a sua saída agradeci a Deus.....chorei..chorei...louvando a Deus, por ter me dado uma nova oportunidade de nascer de novo.
Retiraram o meu útero ...fico pensando quando era criança dizia para minha mãe que sonhava que abortava bebê, e dizia que não seria mãe, ouvia broncas dela por isso. Nunca tive vontade de ter um filho, hoje, após saber que não posso amamentar, jamais vou ficar de barrigão, ou terei uma foto minha de recordação com vestido de grávida, jamais ouvirei de alguém: - Nossa ele é a sua cara!, vejo os bebês nos colos de suas mães..e penso...porque comigo? Tenho consciência da benção derramada em minha vida. Sou feliz por ter nascido de novo..tenho planos para adoção e este ano defini a minha vontade, se adotar..adotarei um bebê é o meu direito ...um sonho.
Um juiz disse em sua palestra:
“ Sabe o porque não podemos dizer as pessoas que querem adotar uma criança para adotar as que estão esquecidas nos abrigos?
Porque ninguém pode roubar ou retirar o sonho do outro, se você quer um bebê, você terá um bebê...pode levar anos na fila de adoção, mais o seu sonho se realizará”.
“ Não podemos roubar o sonho de ninguém”.
Despedida...
Essa é uma parte da minha longa história, tenha certeza sou e estou feliz, não sei dizer o que é a vida sem útero, parece que ele ainda faz parte de mim.
E como o médico me disse:
- Lucilene, Vida normal, seja feliz e aproveite bem a sua nova vida!
Um pedido à todos...
DOE SANGUE!
Lucilene Nunes.
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